Uma floresta Japonesa submersa em Portugal
- #duartemar
- 31 de out. de 2015
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de mar. de 2021

Você já ouviu falar em Takashi Amano? Resumidamente, ele iniciou sua carreira como fotógrafo de paisagens e transformou se em um mestre na arte de construir aquários plantados ("nature aquariums"). Atualmente uma exposição no Oceanário de Lisboa apresenta sua obra prima chamada "Florestas Submersas" onde há um aquário em formato de U com um volume de 160 mil litros de água doce, um comprimento total de 40 metros de exposição, contendo 4 toneladas de areia, 25 toneladas de rocha vulcânica do aruipélogo dos Açores, 78 troncos de árvores da Escócia e da Malásia. Um verdadeiro paraíso de água doce criado para abrigar cerca de 10 mil peixes tropicais entre eles os resplandescentes neons que nadam em cardumes maiores, os exuberantes acarás bandeira com suas caudas e formatos triagulares e os eficazes flying fox que tratam da manutenção das algas nos troncos como jardineiros, além das centenas de minusculos camarões de água doce quase imperceptiveis aos olhos desatentos.

A construção desta exposição foi iniciada no ano de 2015 e deveria permanecer no Oceánario até 2017, quiçá eternamente dada a sua grandeza em todos os sentidos da arte dos aquários.
Mas o que gostaria de compartilhar em especial neste artigo foi a vivência que tive durante aquela visita. Ao final da exposição há um documentário passando numa pequena sala, onde Takashi comenta o fato dos Portugueses terem sido um dos primeiros povos a levar a cultura Ocidental para o Japão à cerca de 400 anos atrás, deixando muitos conhecimentos positivos para o país ao longo de muitos anos e em seu peito havia uma sensação de que o seu pais não teria retribuido a altura ao longo do tempo, então este trabalho teria sido uma maneira carinhosa de deixar a Portugal a sabedoria da natureza através da sua arte.

Já tive alguns pequenos aquários de água doce no estilo que Takashi os constrói e um de seus livros era minha inspiração ao estudar a montagem daqueles pequenos paraísos submersos. Foi uma experiência extraordinária vivenciar pessoalmente a sua maior obra prima. Passei mais de duas horas no espaço a contemplar detalhes diferentes daquele pedaço de natureza retratado com tanta sensibilidade por um ser humano. Poderia transcrever que aquele ambiente submerso retratato por ele impactou profundamente nas minhas emoções e pensamentos, gerando uma sintonia com aquele equilibrio natural da biologia aquática. Parar o corpo em frente ao vidro e observar atentamente a vida daqueles seres vivos e seu habitat trouxe me muitos ensinametos a tona.

Quando sai da exposição perguntei à moça que recebia os visitantes se o artista costumava vir a Portugal para visitar e observar a evolução da sua obra, neste momento ela disse com estas palavras...
"Takashi faleceu este ano (2015), em agosto"
Ou seja, logo após o termino daquela obra.
No mesmo momento pensei, "sendo assim ele esta aqui, ele é isto que acabei de contemplar e estará eternamente aqui.
Aquela foi de fato sua Obra Prima, sua ultima ode a vida na terra e sua ultima mensagem ao Ser Humano à respeito da importância de preservar as florestas, rios e oceanos, do uso sustentável dos recursos naturais e do despertar da consciência humana para cooexistir com outros elementos.

https://www.youtube.com/watch?v=Kq5D8k4BVXs - making of do processo de construção.
http://www.oceanario.pt/exposicoes/exposicao-temporaria/ - site oficial da exposição.
Vale também apreciar a trilha sonora de Rodrigo Leão elaborada exclusivamente para esta exposição. Uma jóia de se ver e escutar.
Comments